Ainda sou do tempo que a marmita era um estigma. Em que era menos honroso levar almoço para o trabalho porque era cool ir almoçar fora. As pessoas que levavam marmita eram olhadas de lado.Odeio cozinhar, estar na cozinha stressa-me! Mas há não abdico de comer bem! Não sou fundamentalista, nem sigo nenhuma dieta da moda – vegetarianos, vegans, paleo… mas também não sou contra. Sou fã de equilíbrios e vou beber um pouco a cada um destes estilos para criar o meu.
“eish levas almoço para o trabalho, a sério?”
As pessoas tinham vergonha de andar com o saco térmico (também não havia sacos térmicos giros como agora) e notava-se que tentavam encobri-lo quando andavam em público, nos transportes, etc.
Mesmo os chefes não olhavam com bons olhos para a existência de uma copa. Até há pouco tempo as copas eram minúsculas onde não cabiam mais de duas pessoas; comia-se na própria secretária e o cheiro a comida invadia o escritório.
Atualmente, a marmita já ganhou terreno, mas foi preciso um grupo de visionários abrir o caminho com a sua persistência. Depois de escritórios inteiros empestados de cheiro a comida durante 15 dias e de um grupo sem vergonha que sempre insistiu em trazer comida de casa, com a crise ou sei lá mais o quê, eis que surgiu a moda das marmitas.
Eu pertenço a esse grupo de idealistas, trabalho há cerca de 10 anos e levo marmita para o trabalho desde o estágio. Agradeço à minha orientadora que logo na entrevista me pôs à vontade: “nós aqui trazemos almoço para o trabalho” e apressou-se a mostrar a copa.
Confesso que fiquei surpreendida, mas radiante porque iria poupar dinheiro (além disso, o estágio não era remunerado). E sinceramente acho que nunca me senti tão bem a comer com os colegas de trabalho. A copa era numa antiga sala de reuniões: restou a mesa comprida e as cadeiras, juntou-se um móvel de lava-loiças, um micro-ondas e um frigorífico; havia ainda talheres, copos e pratos para quem quisesse usar. Éramos uma espécie de gang. E cada dia que passava entrava mais um elemento.
Notava-se perfeitamente quem tinha acabado de entrar no grupo e quem já andava nisso há muito tempo: pela sofisticação da refeição (que incluía sopa, prato principal, sobremesa), pelo conjunto imaculado de talheres, prato e individual a combinar e pela própria descontração, dando as boas-vindas aos recém-chegados que se notava pelo tupperware desproporcional, pela refeição rápida ou pelo esquecimento de qualquer objeto que estavam a iniciar este ritual.
Foi difícil encontrar um saco térmico a medida: nem muito grande nem demasiado pequeno. E o tupperware de vidro para ir diretamente ao micro-ondas e que tivesse o tamanho ideal para uma refeição e para caber dentro do saco. Encontrei na altura uma sacola com desenhos, mesmo a minha cara.
Era tão divertido almoçar com pessoas de outros departamentos com quem no dia a dia não nos cruzávamos e que de uma forma mais informal íamos conhecendo naqueles 45 minutos. Os restantes 15 da hora de almoço eram para ir ao café. E todas as sextas-feiras era dia de almoçar fora. Só para ser diferente! Tive a sorte de nos empregos seguintes haver sempre copa, mais ou menos sofisticada.
Preparar a marmita dá trabalho, é verdade. Preparar a comida no dia anterior, pensar no que levar e mais uma mil e duas desculpas. Sim, são desculpas. Hoje é cool levar marmita e até as marcas acompanham a moda com sacos térmicos todos xpto, tupperwares que incluem talheres e copos reutilizáveis. E basta seguir um ou dois instagramers da vida para ter sugestões de refeições ou ir atrás da moda (da carneirada, como costumo dizer).
A moda das marmitas veio com a alimentação saudável, com os sumos detox, o fitness, a sustentabilidade e mais uma carrada de coisas que sempre existiu, mas que toda a gente ignorava. Agora diz que é moda, portanto mais uma razão para aderir, porque não?
Pensem nas vantagens (que nós já pensávamos há anos atrás):
- sabemos o que estamos a comer;
- conseguimos manter uma alimentação saudável com produtos frescos;
- diminuímos a probabilidade de fazer opções menos saudáveis (quem resiste a umas batatinhas fritas e um ovo a cavalo num bife? Eu não!);
- poupamos dinheiro; uma hora de almoço dá para fazer mais do que almoçar, em vez de passar a hora de almoço à espera que o prato seja servido;
- controlamos a quantidade de comida, sem exageros.
Não é preciso virem as teorias porque já tínhamos descoberto as vantagens. Da horta para o prato, é esta a minha filosofia na hora de escolher o que comer. Não faço dietas, seleciono aquilo que como, porque para estarmos bem por fora temos de cuidar por dentro. Coisas simples, rápidas, mas com sabor e, acima de tudo, qualidade.
Hoje em dia, tenho o privilégio de almoçar em casa todos os dias, mas sou uma espécie de visionária das marmitas desde os meus tempos na cidade grande. Preparar a marmita dá trabalho, é verdade.
Agora diz que é moda, portanto mais uma razão para aderir, porque não?
Quem já segue o blog sabe não gosto de cozinhar (e também já referi isso em cima) e como tenho treinos ao final do dia, chego a casa sempre tarde, portanto não posso perder muito tempo, sob pena de comer a horas tardias e a ir para a cama de barriga cheia. Por isso, opto por fazer algumas pré-refeições ao fim de semana, pelo menos para orientar alguns jantares. Além disso, permite-me fazer uma lista de compras todas as semanas, o que permite comprar apenas aquilo que é necessário.
Há imensos planners bonitos no Pinterest que podemos colocar no frigorífico com o planeamento das refeições. Eis alguns layouts que costumo utilizar:




Descomplicar as marmitas ou pré-refeições
Costumo organizar as refeições de acordo com a semana que vou ter. Se estou a prever ter uma semana corrida, deixo tudo pronto, até as refeições já devidamente proporcionadas. Se for para uma semana menos complicada, preparo os itens em separado, por exemplo, carne ou peixe assado, que vão compor as refeições e vou montando as marmitas e/ou refeições aos poucos, conforme precisamos. Também costumo preparar os ingredientes, deixando-o já separado o que vou usar, muitas vezes já cortado e depois é só preparar as receitas na hora. Mas, claro, demora para chegar a este ritmo de organização, passado algum tempo é quase automático.
Os motivos para ter um menu semanal e como organizar as refeições da semana varia de acordo com as necessidades de cada um: seja para facilitar o dia-a-dia, perder peso, manter uma dieta mais saudável, poupar no orçamento… Cada um tem o seu motivo, mas a meta final é a mesma: organizar-se da maneira mais fácil e eficiente possível.
O primeiro passo é olhar para o calendário e analisar para quantos dias vamos ter de cozinhar e quais refeições a fazer (o que muitas vezes é o mais difícil).
Inspira-te
Usa a internet para tirar ideias, procura receitas e testa novos sabores. Há muitos blogues de receitas, o pinterest e páginas de redes sociais por isso é só ter vontade!
Depois é só marcar no mesmo calendário quais os compromissos que vamos ter ao longo da semana para perceber quais os dias que temos mais ou menos tempo para preparar as refeições. A partir daqui será muito mais fácil, garanto-vos!

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